quinta-feira, 26 de maio de 2011

Os Babás

Babás, no candomblé, são espíritos de mortos, convocados para voltar ao nosso
plano com alguma finalidade. Para invocar um babá, a mãe-de-santo vai ao túmulo
da pessoa junto com um grupo de adeptos e realiza um ritual, de que faz parte a colocação, sobre a tumba, de uma certa roupa, às vezes colorida, às vezes coberta de espelhos ou adornos, que será ocupada pelo espírito reanimado. Vários babás são então reunidos em uma casa, aonde chegam os adeptos e os convidados para assistir a cerimônia. Depois que todos entram, um círculo de babás homens cerca a casa; para quem vê, são tecidos que flutuam no ar como se estivessem pendurados num varal, um ao lado do outro. A partir desse instante ninguém mais pode entrar ou sair da casa. Lá dentro, numa sala iluminada, os convidados assistem à entrada dos babás. As peças de roupa atravessam as frestas das portas fechadas, e uma vez dentro da sala, inicia-se uma dança (se é que pode se chamar assim), ao ritmo dos
tambores e das palavras da mãe-de-santo. As crianças geralmente se encolhem debaixo dos bancos, transidas de pavor. É proibido duvidar do que está acontecendo; se alguém se manifesta ou deixa transparecer um traço de ceticismo, é convidada a se aproximar. Se a pessoa tem boas relações com a mãe-de-santo, esta simplesmente faz com que um dos babás deixe a roupa por um momento; a roupa cai ao chão imediatamente; a mãe-de-santo então renvoca o babá e a roupa novamente flutua e dança. Mas se a pessoa não for amiga da mãe-de-santo, ou for um desconhecido, a mãe-de-santo simplesmente convida a pessoa a tocar no babá para ver se é de verdade. Acontece que tocar num babá é a última coisa que alguém em sã consciência deve fazer; a pessoa pode levar semanas para se recuperar da surra que levará. Por isso, ninguém se atreve a se aproximar da casa durante a cerimônia, rodeada pelo círculo de babás homens. A casa de algumas mães-de-santo é guardada à noite por um par de babás, e ela dorme com as portas e janelas abertas porque sabe que nenhum ladrão ousará chegar perto de uma casa com essa proteção. Uma mãe-de-santo advertira os filhos para não chegar tarde, pois a partir das dez da noite os babás ficavam de prontidão; certa noite ele se esqueceu e chegou as três, e ao tentar entrar em casa foi surrado pelos babás até quase morrer. A mãe-de-santo não pôde fazer nada, pois sabia que nada podia ser feito; esperou os babás terminarem e então levou o filho para dentro, para tratar seus ferimentos com os ungüentos do candomblé.

- J

Nenhum comentário:

Postar um comentário